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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Passageiro de cara feia não entra no ônibus

Um colega jornalista que reside no bairro Navegantes leu o post anterior (aquele do sonho com o galã Antony) e diz que muito pior do que ter diploma de jornalista e viver os infortúnios da profissão é ser discriminado pela maneira de vestir e aparência. "Eu sei que não estaria nos sonhos de muitas mulheres. Mas quando motoristas de ônibus, não me deixam entrar porque estou com ar abatido, ou com roupas humildes, aí é demais", desabafa.


Semana passada, por volta das 20h. Estava na parada. Chovia forte quando o ônibus se aproximou. Correu até a porta mas o motorista, pescoço esticado, o examinou bem e seguiu viagem. Meu colega jornalista acabou obrigado a pegar um táxi. No dia seguinte, foi ao escritório da empresa e- ameaçou denunciar. Pediram desculpas - muitos motoristas já o conhecem bem -, mas argumentaram que, cansados de tantos assaltos, passaram a classificar passageiros.

Se o vivente está com cara fechada, dor de barriga ou com trajes semelhantes aos de algumas tribos de jovens urbanos, pode ser banido do transporte coletivo. É claro que esse tipo de atitude não resolve. "Não sou nenhum deus grego, mas não assusto ninguém. Sei também da barra enfrentada por motoristas e cobradores em linhas que circulam por verdadeiras zonas de conflito.

Mas sempre o mais prejudicado é o cidadão comum. Preocupado com a sobrevivência, sem grana para vestir grifes caras ou aliviar o rosto sofrido. Aliás, terno e gravata deixou de ser sinônimo de decência há tempos.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Na estética, atendendo Marcello Anthony


Entrou apressado na estética. Queria um corte de cabelo e barba. Precisava ser rápido. Ela disse que sim, sem problemas. Era um homem alto, bonito. Opa! Só poderia ser ele: o Marcello Anthony em pessoa. Mas em Porto Alegre? Aquela hora? Talvez preparasse a divulgação da peça “Vestido de Noiva” - clássico de Nelson Rodrigues. Sabia que entraria em cartaz sexta-feira (21), no Teatro São Pedro. Pensou nas amigas que morreriam de inveja. Fora escolhida para cuidar da juba de um dos mais desejados astros globais.

E assim o fez. Aparou as pontas dos cabelos que a impressionaram pelo dourado e maciez. Barbeou o galã com extrema precisão, não se permitiria arranhar tão valioso e cobiçado rosto. Caprichou na hidratação, com uma minuciosa massagem facial. Orgulhava-se do trabalho bem feito, quando uma estranha sensação começou a turvar-lhe a vista. A voz dele parecia distante. De repente tudo escureceu.
Num sobressalto percebera o peso de cobertores a lhe dificultar a respiração. Não era o abraço agradecido do galã. Estivera sonhando em uma gelada noite de inverno. Hoje pela manhã, ligou sugerindo a pauta e exigindo anonimato. Afinal, acordara ao lado de alguém que em nada lembrava Marcello Anthony. Era só um marido que, por sorte, naquele momento não roncava. Senão, no melhor estilo dos personagens rodrigueanos, já teria levado a culpa.

Adepta de livros místicos, curiosa pela análise e busca dos desejos escondidos atrás dos sonhos, decidiu que desta vez, deixaria assim. Enquanto dormia, fizera barba, cabelo e bigode em um galã. Precisava de mais alguma interpretação?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A fúria do Senhor Cotidiano


Vem esfriando como há muito tempo não acontecia. Cadê a droga do aquecimento global? A geada queimou campos inteiros, reduziu pastagens e nos atrasou na hora de chegar ao trabalho, entrincheirados que estávamos entre lençóis e edredons. Também não lembro direito de uma ameaça tão forte como a epidemia de gripe que nos obriga a tomar cuidados extras para não morrer. Em Porto Alegre tem azulzinho abrindo janela de ônibus para espantar vírus. Santo Exagero!

Mas a gripe que é considerada menos letal do que as outras comuns, mata! Da mesma maneira tem chovido, tem soprado vendavais intensos e tantos outros desastres se repetem de forma tão intensa que já pensamos duas (ou mais vezes) antes de sairmos para um cinema, um motel. Todo cuidado é pouco.

O senhor Cotidiano está com as rotinas viradas de cabeça para baixo. Tem a cara de um tio ranzinza que cansou de viver de favores, de salários minguados. Enjoou da consternação de quem é usado, sacudido e espremido por vales-transportes, vales-refeição porque afinal, sempre paga vale ou seja, é mal transportado e mal alimentado.

É bom que estejamos preparados para o novo vírus e principalmente, a nova vacina. Vai custar caro. Muito mais do que se poderia imaginar. Definitivamente o senhor Cotidiano saiu da poltrona puída, largou as chinelas e calçou uma bota pesada para chutar o traseiro dos acomodados e indiferentes. Quer ser feliz? Vá lá e faça a sua parte. Não deixe de expressar-se com a voz da razão. Leia, escute e veja com atenção.

Aproveite o final de semana para interpretar o que dizem as notícias. Escute, mas não decida nada antes de entender um mínimo dos fatos que se atropelam a sua volta. O senhor Cotidiano está irado. Cansou de carregar a fama de que é monótono, vazio, repetitivo. Quer ver cada mortal a tirar lições do frio, dos espirros, dos mortos da baixa estima. Dos que sucumbiram a ignorância.

O senhor Cotidiano rogou tantas pragas que tudo acontece ao mesmo tempo. Só falta começar a aparecerem extraterrestres em nossos pátios. Objetos voadores não identificados deram sinais em Londres. Imagens feitas inadvertidamente por câmeras da sisuda BBC os captaram em rápidos frames.

Estará chegando a hora? Justo agora que achamos petróleo na camada pré-sal? Acho melhor eu parar de tomar tanto café preto. A negra rubiácia me coloca a um passo da paranóia, ou no mínimo, tentado a sair por aí singing the blues. Agora, reclamar do cotidiano, nunca mais!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Mais uma história de músico (e um amor virtual doido)


Chegou em casa e viu o pandemônio à sua volta. Cortinas rasgadas, poltronas meladas com ovos espatifados. Na cozinha, pratos e copos quebrados amontoavam-se entre panelas furadas a pontaços de faca. Desacorçoado dirigiu-se ao quarto onde, surpresa! Não havia mais cama. O colchão transformara-se em peneira de espumas. Meu Deus! Ela havia enlouquecido. O violão, velho parceiro, jazia em um canto, partido ao meio em sua alma de madeira nobre.

Conhecera a namorada através de um destes sites de bate-papo. “Ela era espirituosa, apaixonada”, conta. Em prazo recorde, juntaram as trouxinhas. Músico profissional, viaja muito e passa horas a fio em ensaios. Ela aceitou a rotina até descobrir que a banda dele tinha uma vocalista muito afinada e sexy. Aflorou o ciúme doentio. O lado obscuro e malvado daquela moça que até então, era só fogo e paixão. O universo da Internet, permite frases estudadas e uma realidade paradisíaca. Esconde, muitas vezes, o verdadeiro eu de seus protagonistas.

Apenas depois do incidente soube que sua amante virtual sofria de profundas crises depressivas. Os avós da moça que a criaram, gente de boa índole, imploraram para não levar o caso à polícia. Assumiram os prejuízos. Aceitou desde que tivesse a chave do apartamente de volta. Relacionamentos digitais podem dar certo, sim. Desde que não queimem etapas. "Olho no olho, é fundamental antes de iniciar-se uma vida a dois" ensina ele, resignado...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O bêbado, o barzinho e o repertório do cantor

Em volta de uma mesa de bar, qualquer tema é pauta. Polêmicas são bem-vindas desde que respeitem as opiniões por mais doidas. Nada de imitar o feio comportamento dos legislativos, por exemplo. Questões, por mais graves precisam ser regadas com drinques de bom humor.

Nenhuma discussão deve poluir o ambiente com agressões gratuitas que acabem invadindo as demais mesas com uma irritante poluição sonora. Desaforos só os autorizados pelo grupo.
Mas sempre tem um chato para criar desconforto entre o universo que representa cada uma das mesas. Todos com seus próprio assuntos. Guerras, paixões, times e partidos a serem discutidos.

Nó final de semana, um amigo músico, além da chuva e vento, viu-se obrigado a enfrentar um sujeito que insistia em solicitar determinadas canções. Todas opostas ao estilo do bar. “Preconceito” esbravejava o cliente que insistia em ouvir hits de música sertaneja onde o repertório era tipicamente de jazz e bossa-nova. “Elitismo barato”, repetia exaustivamente. Batia água lá fora e as pessoas se impacientavam com o chato.

Lá pelas tantas o músico, já saturado, soltou seu violão e saiu porta a fora. Até o dono do bar assustou-se com a cena. Alguns minutos depois, retornava carregando uma sacola de supermercado. Cochichou algo com o garçom que, instantes depois, oferecia ao chato um copo de iogurte com duas pedras de gelo. “Se eu quisesse beber leite iria a uma lanchonete”, recusou. De volta a seu banquinho, o cantor emendou ao microfone, afinadamente, sem aumentar o tom:

“Então, quando o senhor desejar ouvir outro tipo de música, eu mesmo lhe indico espaços adequados”. Mal concluiu a frase e foi aplaudido com entusiasmo pelo público que acompanhava a implicância do bebum. Este resmungou mas acabou rindo do próprio ridículo. Antes de ir embora, abraçou o cantor.

Quando as portas do bar fecharam, os problemas do mundo pareciam distantes. Prontos para uma solução definitiva. A excessão da chuva, é claro. Acho bacana quando as pessoas resolvem pequenos conflitos com bom humor. Sem gritos, na base de tolerância e paciência.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O engano dos vovôs viagreiros e suas tristes amadas

Depois da invenção do Viagra, acabou a vida bucólica dos machos da espécie humana ao atingirem a maturidade extrema. Muitos vovôs se mantem ativos, sem remédios, mas a grande maioria perde a funcionalidade. A pílula azul deu nova energia. Talvez esse detalhe, a jovem de 24 anos, que casou com o bilionário norte-americano Bill Hardy (põe hard nisso), deve ter esquecido. Ela pediu divórcio após três meses de muita sacanagem.

Não resistiu "a máquina de sexo" que se tornara o veterano, conforme palavras da moça, ao referir-se sobre marido, otimizado por Viagra. Agora ela casou com um guri de 28 anos, que incomoda menos, porque sei lá, não deve ser tão rico assim, pensa na sobrevivência e é claro, tem muito mais tempo para fazer aquilo que o vovô queria a toda hora. Afinal, aos oitenta e picos tudo tem prazo de validade reduzido. Seja pobre ou bilionário.

Nunca provei a tal pílula azul. Tenho medo de um piriri. Diz que a gente pode ver azul! Que o troço fique roxo, feito o do Collor. Meu lado Rui Felten (jornalista e paciente médico profissional) é tri apavorado com remédios. Essas gurias pensam que os vovôs estão só no jogo de damas (e eles estão com outros planos em relação as damas).

Cansei de ler a respeito das vovós que reclamam da atitude dos velhinhos "viagreiros". Elas perderam o pique, a disposição. E lá estão eles enrijecendo armas jurássicas. Acho que não basta tomar Viagra e partir ao ataque. É preciso voltar ao namoro. Não existe remédio para a sedução. Aos 85 anos, depois de muitos anos de inatividade, ambos viraram amiguinhos, parceiros magníficos na maioria das vezes. Atentos à hora de tomar o remédio, da caminhada, do passeio e outras atividades. Sexo virou uma vaga lembrança que nem foto tem (na maioria das vezes, provando que até gostavam daquilo).
Meu falecido avô Alfredo, nos momentos de saudades da amada, jurava que envelhecer não mudava nada além da imagem no espelho e o ritmo que se tornava mais sereno nas coisas do cotidiano. Ele não se considerava lento, mas sim "na medida". Eles apesar dos anos, das rusgas comuns a todo casal, se amavam muito. Era bonito ve-los abraçados, de mãos dadas. Na intimidade, rolava carinho de amantes "na medida", como dizia o sábio velhinho. Não eram tempos de remédios milagrosos, "mas se um homem tem saúde para subir escadas, pode fazer outras coisas", dizia aos netos, ainda guris.

Estou me especializando em escadarias, lombas íngrimes e como ensinou o velho Alfredo, exercitando tudo, sem perder a ternura , "in the mood" - na medida - como tocava Glenn Miller nos anos 30. E o baile seguirá até a hora da orquestra partir.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Imitar o "Rei" não basta (ou a musa do SP2)

Era uma vez um mundo tão lindo... As meninas mais formosas encontravam os príncipes mais gatos e com eles construíam uma existência que superava adversidades, bruxas malvadas e ogros mal-humorados garantindo o clímax lacrimoso. Cortinas baixavam enquanto o destino redigia a sentença final: “...e foram felizes para sempre!” Esse mundo existe apenas no faz-de-conta. A vida real é muito melhor, muito mais excitante, principalmente ao garantir as mesmas chances e oportunidades aos que ousam aventurar-se na conquista. Imaginem que chato, que desigual, um mundo onde top models somente amariam iguais. Se o Criador não brindou a todos com os mesmos atratativos, garantiu para cada um a verdadeira beleza que é a capacidade de ser único entre milhares. Tem gente que não percebe isso e desperdiça chances incríveis de um (ou vários) finais felizes.

Lembro um colega de cursinho pré-vestibular, o Edu. Gente fina, simpático, bom papo, mas inseguro ao extremo. Os maldosos diziam que com aquela cara não poderia sentir-se muito bem mesmo. Era feio, o Edu. Ele tinha uma queda, assim como todos nós pela Marina, colega lindona, simpática e rica. Deusa morena de pele macia, cabelos negros e olhos verdes. Cobria-se com as griffes mais chiques dos anos 70 (faz tempo, né?). Tinha um carro só dela: um lindo SP2, aquele esportivo da Volks xodó das emergentes da época (até começarem a incendiar, lembram?) Rompera com o noivo, filho de um ilustre livreiro gaúcho. Queria festa.

Marina saía com a turma. Na hora de voltar para casa, apesar dos olhares carentes, pidões e sugestivos, pagava sua parte na conta e acelerava sozinha para casa. Em um destes encontros estávamos no Zé do Passaporte, lá no Bom-Fim, quando o Edu apareceu. Andava sumido dos encontros desde que fora demitido no banco onde trabalhava. Mas de emprego novo, retornava. Marina disse que pagaria uma rodada de cerveja ao Edu se este imitasse Roberto Carlos.

O feioso reproduzia com perfeição timbre – e cacoetes - do Rei. Como não atender o pedido de uma deusa? Limpou o gogó e cantou: “Sem você, minhas noites são tão frias, vou morrer. Meu bem, vem depressa, vem me aquecer, quero ter você perto de mim...” e por aí seguiu. Meloso. Sentimental. E afinadíssimo. Por um destes descuidos da natureza, Marina comoveu-se. Aplaudiu o Edu em seu momento de glória, em plena Osvaldo Aranha e ainda o levou pra casa. Lá exigiu mais do que canções do amante a moda antiga.

Acham que a história foi para um idílico final feliz? Marina apaixonada. Edu também. Só que o mané decretara ser ela um paraíso impossível. E ignorou a musa de nossa turma. Saía com outras! Elas agora queriam uma “lasca” do feioso. Coisa de mulher. Ele murgulhava nesse imbróglio afetivo. Efeitos da baixa estima, da rejeição. Era o grande matador! Marina sentiu-se usada. Sabíamos que não era nada disso. Nosso amigo complexado apenas jogava fora a chance de amadurecer. Encolheu-se na insegurança. E de feioso, passou a ser visto como medíocre.

Nunca o julguei. Namorar uma linda mulher e agüentar “advertências” tipo “cuida bem dessa mulher” ou “Olha que tem gente de olho...” deixavam a estima do pobre coitado ain da mais baixa. Aproveitou o momento, que é claro passou rápído. Depois disso, toda vez que incorporava Roberto Carlos, emocionava-se ao cantar “Sua estupidez”. Era seu hino. Casou com uma mocréia mal-humorada que o traiu mais adiante. Nunca mais o vi.

Marina foi cuidar dos negócios do pai em São Paulo. Dizem que é uma elegante cinquentona. Escaldada, não admite falar em casamento. “Homem é tudo igual”, sentencia até hoje. Não é bem assim. Às vezes acreditamos mais na imagem imposta e nos atrapalhamos na hora de vencemos o labirinto que nos levaria a verdadeira face.