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segunda-feira, 11 de maio de 2009

Crônica não postada para o dia das Mães. Freud explica

Comprou um presente pra mamãe? Se ela tem tudo, faltam opções criativas, se não tem muito, também rareiam os recursos para presenteá-la. Mas ela mesma te disse que não queria nada, não é? A presença do filho ou um telefonema saudoso bastam. E o almoço, será na sogra? Sim, sogra também é mãe. Inacreditável, mas verdadeiro. Quem sabe muitos enfrentarão as longas filas dos restaurantes.

E na corrida, nem poderão reclamarar do galeto servido quase cacarejando de tão cru ou do churrasco, invariavelmente tostado demais. Os garçons que também tem mãe, não sabem como atender tanta gente. Os filhos mais caras-de-pau colocarão, quem sabe, as homenageadas na cozinha, ou prepararão, eles próprios, algum prato especial. Elas confessarão ter adorado a lembrança e a filharada custará a crer que dizem a verdade. Até porque, comida boa quem faz são elas mesmas. O resto é bobagem.


Mãe! Três letras que agregam um universo de sentimentos puros e intermináveis campanhas publicitárias que vendem um mundo cor-de-rosa, parcelado em prestações nos cartões ou cheques pré-datados. Tantos poemas a decorar, tantas crônicas sensíveis, tantas bênçãos e sermões nos púlpitos acabam obrigando a todos nós, bons filhos, a mantermos lacradas as gavetas da consciência onde mofam sentimentos confusos e contraditórios. Lá estão as culpas dos meninos maus e das meninas sapecas.


Mesmo os filhos já próximos da terceira idade, na maioria das vezes não ousam tirar os babeiros temendo o julgamento materno. “Eu não fui o doutor que ela sonhava” ou “Nunca a visitei como devia”. Culpas.Alguém aí do outro lado da página, ainda duvida que é desta culpa original que se fundamenta a psicanálise? Quantos experimentam o alívio de estresses afetivos em cronometrados e caríssimos minutos no divã? Pagam para abrir as gavetas emperradas por anos de lágrimas incontidas presas a ferrugem escura do rancor. “Mamãe não me entendia...” Tanta mágoa disfarçada de maturidade; tanto trauma transformado em transtorno compulsivo.


Vasculhamos nossas vidas até chegarmos ao berço onde tudo se originou. E quando o embalamos cheios de auto-piedade nos damos conta de que o bebê que estamos a ninar em nossa regressão tem a cara de nossas mães. Sim, a humanidade é um xerox de carne e espírito.Evoluiu quem percebe que entrar em conflito com o útero onde foi gerado é entrar em conflito consigo mesmo. É da mãe que sai a benção do amor maior do que sua força geradora.


E faz de qualquer um, seja ele doutor ou iletrado, mais do que o filho querido, um ser especial e único. Feliz desde que aceite o amor materno que também tem limitações e erros. O colo da mãe será sempre seu último refúgio, mesmo quando se considere tarde demais. Afinal, neste universo materno, não existe o tempo, a vida ou a morte. Existe sim, o filho, único e absoluto, síntese e essência de sua existência. Com ou sem culpa.

Um comentário:

Léa Aragón disse...

Culpas...culpas são elas as culpadas de tudo. O negócio é amar, amar muito. Este é o maior veneno contra culpa. Adorei a foto com a mamy.